Eis que, de repente, ressurgem, como verdadeiras fênices, as memórias das plantações de São Paulo. Um lugar de memória do mundo do trabalho.
AcessarO viajante, que se destinar ao interior do estado de São Paulo, verá um grande “mar de cana”, estendendo-se por quase seis milhões de hectares, além de grandes fazendas produtoras de laranja e café. São Paulo é mundialmente conhecido pela produção destas commodities, graças aos recursos naturais - terra, água, clima -, emprego de tecnologias avançadas, apoio institucional e desenvolvimento científico. No entanto, a imagem de homens e mulheres laborando nos campos pouco será vista pelo viajante. Somente gigantescas máquinas descortinarão na paisagem.
Durante as últimas sete décadas, milhares de pessoas, negras e pardas, provenientes dos estados do nordeste e do norte de Minas Gerais labutaram nas terras paulistas, produzindo sua história laboral, cuja face está sendo apagada.
Na contramão deste apagamento, nasceu a ideia do repositório Vozes e memórias, cujo objetivo é reconstruir o passado, desdobrando-o e trazendo-o ao presente, por meio das vozes silenciadas e das memórias ocultadas.
O repositório é um riquíssimo acervo, constituído de cerca de mil horas de entrevistas gravadas com homens e mulheres em vários “sertões” do país, nas grandes plantações em São Paulo e também nos sítios e assentamentos. As entrevistas foram realizadas no período de 1983-2017.
O repositório busca evitar o processo de memoricídio e revelar ao viajante as experiências das vidas talhadas com as mãos nos campos paulistas.
Nas pegadas de W. Benjamin, é necessário escovar a história a contrapelo e atender ao apelo que o passado nos faz.
Oxalá, Vozes e memórias possam acompanhar este viajante e muitos outros nas terras paulistas e além delas.
Letra: Paulo López García (em memoria); Música em viola caipira (Tom D): Paulo Maroti (teó) e Paulo Henrique Marques
Reporta-se à morte de Diogo da Rocha Figueira (1863-1897), conhecido por Diogo ou Dioguinho. Era um bandido a serviço dos proprietários de terra e comerciantes, que atuava nos municípios de São Simão, Batatais, Altinópolis, Cravinhos, Ribeirão Preto, Santa Rita de Passa Quatro, Pirassununga, Araraquara e Jaboticabal.
Reporta-se ao processo de violência intrínseco à formação das fazendas de café no início da história republicana, cujo poder estava nas mãos dos coronéis do café.
Reporta-se às minhas memórias da infância da roça nas “Paineiras”.
Versa sobre o processo de desenraizamento social dos pobres do campo.
Reporta-se à conquista da terra por sitiantes como forma de garantia dos direitos sociais, da autonomia e da dignidade. A terra é um bem simbólico.
Abaixo seguem depoimentos, cujas autoras foram importantes para realização das pesquisas do repositório.
Ir. Inês Facioli, missionária Scalabriniana, atuei na Pastoral do Migrante na diocese de Jaboticabal/SP e região de Ribeirão Preto junto aos migrantes temporários do corte de cana por 18 anos em intercâmbio com as regiões de origem dos...
A trajetória acadêmica singular da Professora e Pesquisadora Maria Moraes tem as balizas da sua formação em Sociologia na UNESP e na Sorbonne e o seu interesse pelos que perambulam em busca de melhores condições de vida e trabalho no...
O repositório Vozes e Memórias torna acessível ao público o rico material de pesquisa da Profa. Maria Moraes construído em quatro décadas de trabalho primoroso, acuidade metodológica e consistência teórica associada ao compromisso ético-social e político com os (as) trabalhadores (as) migrantes.